Voltava eu da Terra do Nunca, viajando de ônibus. Olhava para o céu. Não, minto. Não olhava para o céu. Olhava para a janela do ônibus e, através dela, via o céu. Mas como ficará a lembrança deste momento? Provavelmente me lembrarei sempre que olhava para o céu. A janela era tão limpa. Tão transparente.
Pedi para pararem o ônibus. A meio caminho do mundo dos que crescem, senti uma vontade de olhar para trás. Mas não consegui. Também não consegui olhar para frente. Só olhava para o céu. Ou melhor, queria olhar para o céu. Tomei minha decisão: não vou à terra dos condenados a morrer nem voltar à terra dos condenados a viverem para sempre. Vou ficar no meio do caminho, pois o céu que vejo é infinito e infinitamente azul. Sou o céu, nesse instante, olhando para o menino inquieto dentro do ônibus. Quero dizer, olhando para a janela do ônibus e vendo o menino inquieto através dela.
O céu não vive e não morre, e não está limitado a uma terra apenas. O céu abriga a todos, indiscriminadamente. É o maior ponto de ônibus já criado. Todos os ônibus passam por ele e estão parados nele. E, dentro dos ônibus, meninos inquietos.
Mas, passou-me o pensamento, e se o céu é também uma janela? E pior, não daquelas pelas quais passa a visão, mas sim daquelas que refletem ilusões? A verdade é que o céu gera a inquietação dos meninos. Para que sua grandeza, céu? Eu sei por que. Porque existem muitos ônibus. Por que a inquietação, menino? Não sei por que. Talvez porque um menino assim, dependente dos ônibus, esteja fadado a sempre ficar no meio do caminho, por causa dessa indecisão deles que os faz voltar sempre aos mesmos lugares e não lhes permite seguir novos traçados e conversar com o céu, como eu converso. Ou melhor, como eu gostaria de conversar se não houvesse uma janela nos separando.
Desanimado, desembrulhei e degustei um algodão-doce. Afinal, só nuvens habitam o céu.