quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Professor versus Aluno

 
O dragão respira
Palavras indignadas.
O orador espera
Ouvido enamorado.
 
O dragão transpira
Histórias fabricadas.
O ouvinte supera
Tédio disfarçado.
 
O disfarce entrega
Sorrisos montados
Com a perfeita colagem
De dentes reformados.
 
O disfarce intriga
Olhares consumados
Pela perfeita clonagem
De entes mal amados.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Grilhões

Uma estante. Alguns livros. Uns DVDs. Uns videogames. Coleções. Muitos passados. Um presente de muitos presentes. Nenhum futuro: outros dias para consumir. E consumiremos. E não criaremos nada além de plástico no mar e suspiros no ar. Suspiros no ar, peso sobre os pulmões, poeira na alma, grilhões. Os fantasmas sequer vêm nos visitar, eles ainda vivem entre nós. E não há meio de redenção, não há túmulos a nos encarar, nenhum charuto aceso em nosso inacabável velório pré-fabricado na China, montado na Zona Franca de Manaus e embalado em São Paulo, pela filial brasileira de uma grande multinacional multifacetada multitarefa multimídia, multidão de multidões. Nem mesmo os advogados estão lá lendo nossos testamentos, porque já não sabemos morrer, os fantasmas entre nós não irão nos ensinar esta lição, que estava na última página do último capítulo do último livro da última série do último escritor do último país do último planeta que existiu. Que ainda existe, na verdade, e como ele ainda existe, não passou à condição de particípio passado, os fantasmas não irão nos ensinar porque não é possível, estamos ainda esperando a manufatura do fim. O fim que nunca começa, de um começo que nunca começa. Tudo é continuação. Fora, fantasmas! Vocês são Coca-Cola, são Red Bull, são Nike, são Ford, são Mercedes-Benz, são Gucci, são Marxistas, são Olavistas, são Católicos, são Umbandistas, são Nintendistas, são Romero Britto, são Steven Spielberg, são Tim Burton, são Disney+, são HBO Max, são Orgânicos, são Sadia, são Petrobrás, são Shell, são Americanas, são Pernambucanas, são WalMart, são Twitter, são Facebook, são Pautas Identitárias, são Liberdade de Expressão, são Stephenie Meyer, são J.K. Rowling, são América, são Europa? Não! Fora, fantasmas! Queremos continuar o que não começamos, o que não acabaremos. Outra sequência, por favor.