sábado, 25 de dezembro de 2021

Liebe

Se até Fausto aprendeu, quem é que não conseguirá?

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Professor versus Aluno

 
O dragão respira
Palavras indignadas.
O orador espera
Ouvido enamorado.
 
O dragão transpira
Histórias fabricadas.
O ouvinte supera
Tédio disfarçado.
 
O disfarce entrega
Sorrisos montados
Com a perfeita colagem
De dentes reformados.
 
O disfarce intriga
Olhares consumados
Pela perfeita clonagem
De entes mal amados.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Grilhões

Uma estante. Alguns livros. Uns DVDs. Uns videogames. Coleções. Muitos passados. Um presente de muitos presentes. Nenhum futuro: outros dias para consumir. E consumiremos. E não criaremos nada além de plástico no mar e suspiros no ar. Suspiros no ar, peso sobre os pulmões, poeira na alma, grilhões. Os fantasmas sequer vêm nos visitar, eles ainda vivem entre nós. E não há meio de redenção, não há túmulos a nos encarar, nenhum charuto aceso em nosso inacabável velório pré-fabricado na China, montado na Zona Franca de Manaus e embalado em São Paulo, pela filial brasileira de uma grande multinacional multifacetada multitarefa multimídia, multidão de multidões. Nem mesmo os advogados estão lá lendo nossos testamentos, porque já não sabemos morrer, os fantasmas entre nós não irão nos ensinar esta lição, que estava na última página do último capítulo do último livro da última série do último escritor do último país do último planeta que existiu. Que ainda existe, na verdade, e como ele ainda existe, não passou à condição de particípio passado, os fantasmas não irão nos ensinar porque não é possível, estamos ainda esperando a manufatura do fim. O fim que nunca começa, de um começo que nunca começa. Tudo é continuação. Fora, fantasmas! Vocês são Coca-Cola, são Red Bull, são Nike, são Ford, são Mercedes-Benz, são Gucci, são Marxistas, são Olavistas, são Católicos, são Umbandistas, são Nintendistas, são Romero Britto, são Steven Spielberg, são Tim Burton, são Disney+, são HBO Max, são Orgânicos, são Sadia, são Petrobrás, são Shell, são Americanas, são Pernambucanas, são WalMart, são Twitter, são Facebook, são Pautas Identitárias, são Liberdade de Expressão, são Stephenie Meyer, são J.K. Rowling, são América, são Europa? Não! Fora, fantasmas! Queremos continuar o que não começamos, o que não acabaremos. Outra sequência, por favor.

sábado, 30 de outubro de 2021

White Houses

 

Tenho duas faces,

Um mundo ao norte,

Um forte ao sul,

Nenhum espelho

Sob o céu azul.

 

Tenho medo da morte,

Tenho medo do tempo,

Tenho medo da sorte,

Tenho tudo o que precisa

Um ser humano forte.

 

Tenho um Face,

Um mundo ao norte,

Um forte ao sul,

Nenhum amigo

Sobre o fundo azul.

 

Tenho dois backups,

Tenho duas HDs,

Tenho duas casas,

Tenho tudo o que precisa

Um inseto sem asas.

 

Tenho uma memória,

Um mundo ao norte,

Um forte ao sul,

Nenhuma história

De sangue azul.

 

Tenho pouco dinheiro,

Tenho pouca saúde,

Tenho pouco sucesso,

Tenho tudo o que precisa

Um retrato impresso.

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

Está Encerrada a Era Daniel Craig em James Bond

Pouco antes do lançamento de Quantum of Solace, o segundo filme - do que seria uma série de cinco - estrelando Daniel Craig como o agente secreto britânico James Bond 007, escrevi sobre como me atraía a ideia de que os produtores da franquia estão mais atentos à continuidade entre os longas do que em eras passadas.

Os filmes de Craig acabaram evoluindo, por inúmeras razões internas e externas à produção de cada um deles, para uma única narrativa: uma grande história dividida em cinco capítulos. Por um lado, foi interessantíssimo, atraiu muitos fãs novos. Por outro lado, foi um tanto quanto alienante, afastou muitos fãs antigos. Eu mesmo, contrariamente ao que sentia no começo, aquele sentimento positivo que expressei aqui neste blog quanto à direção da narrativa, acabei me importando menos e menos com a continuidade e mais com a qualidade geral de cada um dos filmes a cada novo lançamento.

A trajetória foi bastante acidental. Casino Royale era uma introdução. Quantum of Solace a sequência imediata e mal planejada ao sucesso crítico aparentemente inigualável do primeiro. Foi um tropeço. Foi necessário voltar ao estilo de Casino Royale. Veio no corpo de uma obra de Sam Mendes, uma grande obra, mas muito influenciada pelos filmes de super-heróis, a coqueluche dos anos 2000 e 2010. Casino Royale também tinha um pouco de tais filmes, mas Skyfall foi muito além, dando a James Bond uma vida fora do Serviço Secreto (!). Spectre, o quarto filme, e uma obra de arte como o antecessor, chegou ao que parecia o extremo da influência das HQs, dando a Bond um antagonista que ~quase~ divide com ele laços de sangue (!!). Por fim, No Time to Die abraçou o inimaginável, ao completar o arco de "Craig Bond" criando a Bond-família (!!!).

Em resumo, digo que, ainda que sejam cinco grandes filmes, em uma série cuja narrativa poucas vezes deixa a peteca cair, é estranho demais ver técnicas da literatura pré-adolescente, que engloba os quadrinhos de super-heróis e seus derivados, aplicadas a James Bond. Sim, é certo que parte desta estranheza foi proposital, os filmes foram feitos para nos impressionar. Mas não foram poucas as vezes em que, entre as muitas linhas de texto proferidas por grandes atores ao longo da jornada, surgiram falas que, penso eu, nunca sairiam de uma pessoa destruída como Bond. E, em certos momentos, houveram também certas *ações* que nunca viriam de um profissional como Bond. Como no último filme: será que ele desistiria mesmo? De Madeleine? De tudo? Uma grande série, que, como quase todas as grandes séries, não conseguiu entregar um final satisfatório.

Pois filmes são acidentes. As equipes que os produzem têm que lidar com problemas de todo tipo da pré-produção à pós-produção. Os problemas exigem mudanças de roteiro, às vezes mudanças de última hora. O mundo real também influencia. A idade do elenco, as realidades políticas, os outros sucessos que dividem as salas de cinema, uma pandemia, a história e o peso de um personagem clássico, os planos pessoais de cada membro da equipe, tudo altera um roteiro. E este talvez seja o maior problema dos filmes sequenciais, eles estão sujeitos a ainda mais e maiores imprevistos que os demais filmes para conseguirem entregar o que prometem. Sendo assim, torço para que o próximo James Bond seja sequencial, mas nem tanto. Arte em primeiro lugar, lógica apenas se e quando possível.

domingo, 5 de setembro de 2021

Se o Tempo não pode parar nem por Você, Nós brincamos.

Meu filho tem 3 anos de idade. Ontem, era bubu. Hoje é ônibus. Ontem era bubu. Hoje é caminhão. Ontem era auau. Hoje é cachorro. Ontem era miau. Hoje é gato. Ontem era papai. Hoje é pai. Sempre serei Pai. Você brinca. Você é pai. Você liga o caminhão.

- O que você quer assistir?
- Caminhão!

Eu quero ir para um lugar. A vovó já acordou? Ó: a lua está no céu, a vovó está dormindo. A lua sumiu, a vovó já acordou. O Sherlock tá na casa dele? Ontem era vovó. Hoje, vez ou outra, é vó. Vem, vó, vem. Vem, pai. Vamos escorregar. Ó, aí mamãe vai trabalhar, aí você fica com o papai. Hmm, eu adoro brincar com você. Você é legal. A mamãe é legal. O Sherlock é amigo. O Jimmy é amigo: não fica bravo com ele, ele é amigo. Não fica brava com o papai, ele trabalha muito!

- Eu quero leite!... Tá quente!... Tá frio!... Não, não é assim! Tá ruim!... Eu quero deitar.

Tem que esperar a mamãe. Você dorme aí na sua cama, eu durmo na minha. Boa noite, papai. Amanhã a mamãe vai trabalhar, amanhã você brinca. Não vai tomar banho, eu quero brincar!

Você tem 3 anos de idade. Hoje, você brinca. Amanhã, você será você. Amanhã, você ainda brinca... E, assim, eu ainda brinco: brinquemos tranquilos. Brinquemos sem que o Tempo impotente nos perturbe jamais.

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

O Sonic Team hoje

Há pouco mais de dez anos atrás, perguntei neste mesmo blog qual seria o futuro reservado ao estúdio Sonic Team, a parte da editora Sega que é responsável pelos games da sua mascote Sonic the Hedgehog. Na época, o estúdio estava prestes a lançar Sonic the Hedgehog 4, que prometeu trazer de volta à série o estilo de jogabilidade próprio do primeiríssimo lançamento da franquia, ou seja, plataforma com progressão 2D lateral, da esquerda para a direita. O jogo prometeu, mas não cumpriu. Ele apenas adaptava a jogabilidade dos games tridimensionais da série, sua mecânica de pulos teleguiados, à visão lateral com movimentação bidimensional. Ou seja, tinha pouco dos clássicos. 

Seria o fim para o Sonic vintage? Parecia que sim, mas a realidade estaria longe disso. Talvez graças ao sucesso dos inúmeros fan-games, sempre remetendo aos jogos antigos, o porco-espinho azul voltaria, gordinho e baixinho, ao lado de sua versão moderna magricela de olhos verdes, em Sonic Generations, feito pelo próprio Sonic Team, e, alguns anos depois, sozinho no inacreditavelmente bem-sucedido Sonic Mania, que praticamente todo mundo adotou como o verdadeiro Sonic 4.

Assim, um jogo concebido por estúdios pequenos, chefiados por fãs de longa data do protagonista, acabou parte do cânone, enquanto que os jogos oficiais... Pararam. Com as vendas de Mania, os lançamentos 3D desaceleraram até desaparecer dos calendários semestrais ou anuais de lançamentos que as grandes editoras tanto gostam de revelar e de hypear. Diz-se que, na Sonic Team, preparam-se novas investidas retrô pelas mãos daqueles que devem capitanear a franquia a partir de agora: seus admiradores.

Já o estúdio cujo nome carrega mais que o espírito sônico deve concentrar-se nas versões online da série Phantasy Star, que finalmente decolaram no ocidente e prometem continuar fazendo dinheiro. O futuro parece melhor hoje do que parecia há dez anos, seja para o Sonic Team na função de programador de estrelas fantásticas, seja para o Sonic Team na função de produtor de aventuras velozmente azuis e bidimensionais.

sábado, 27 de fevereiro de 2021

Fórmula

O capitalismo contemporâneo deve quase todos os seus sucessos a... Karl Marx. Foram os escritos dele que desnudaram as principais falhas dos burgueses nos aparatos de controle da classe proletária. Foram as revoltas comunistas que mostraram que só se controlam escravos com comida e moradia, na forma de um salário que não desvalorize o escravo perante a máquina. Foram as revoltas da classe trabalhadora que protegeram a criança da indústria, consequente e simultaneamente transformando-a em um novo mercado, extremamente lucrativo. Foi o sucesso soviético inicial, além da própria concorrência entre os burgueses, que devolveu ao vocabulário destes burgueses alguns valores relacionados a um período passado, e que funcionam como definidores de mercados, como o nacionalismo e, posteriormente, a religião. É o terror causado pela simples ideia de que um dia tal verdade venha à tona que estimula os capitalistas a continuarem criando estruturas linguísticas e comportamentais de segregação, que os liberais e a esquerda abraçam ora com a coragem esperada, como na revolução sexual do século passado, ora com inocência constrangedora, como nas reivindicações identitárias de hoje. Liberais e esquerda, estes também saídos da classe burguesa, geralmente impedidos de educar o proletariado pelos seus próprios interesses políticos ou até de subsistência. Enquanto pregam a palavra dos filósofos do amanhã, evitam entrar em choque com os senhores do capital, para não terminarem excluídos e ultrapassados como os poucos realmente revolucionários terminaram. Porque foi assim que eles terminaram: sem o controle dos meios de comunicação internacionais que possibilitem o mesmo alcance que a educação burguesa, capitalista, consegue sobre as populações urbanas, nenhum conseguiu, nenhum conseguirá, unir as camadas mais baixas da pirâmide econômica, hoje não mais dividida em operários de diferentes ofícios, mas em grupos ainda menores de pessoas que compartilham exatamente o mesmo conceito de sociedade aceitável. Dividir para controlar, como já alertava, após Bacon e Kant, o historiador e economista Marx, que é o capitalista quem lê.

domingo, 3 de janeiro de 2021

sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

2021

Espero que terminemos 2021 andando, enxergando, sorrindo... E ouvindo, com ouvidos bem abertos e bem saudáveis. Envelheçamos assim.