quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Estréia amanhã o novo filme de James Bond

Na Inglaterra, Quantum of Solace vai às telas dia 31. Vai demorar um pouco ainda para aparecer por aqui (bem pouco, uns quinze dias talvez). E, aproveitando o clima, finalmente arranjei uma cópia de Casino Royale, o livro de Ian Fleming escrito em 1953 e primeira aventura do agente secreto, para degustar.
E é bom? É ótimo! Ainda que Fleming não esteja ainda exibindo a performance que exibe nos seus livros seguintes, essa primeira aventura de 007 é digna de nota, sem preocupação nenhuma com brincadeiras racistas e repleta de momentos de adrenalina pura. Sem contar que, graças à obra, finalmente aprendi as regras do baccarat.
A boa leitura, obviamente, faz o bumerangue do meu interesse voltar para o filme que estréia em breve. O que estará reservado dessa vez para nós, fãs de Bond? Casino Royale, o filme anterior (sim, baseado no livro homônimo), estava primoroso - pelo menos em sua segunda metade, quando a ação sem sentido dava espaço a um jogo de nervos dentro da arena verde de uma mesa de cartas.
O divertido dessa nova fase é que fica claro o rumo que a série tomou. Não digo que o rumo é bom. Também não digo que é ruim. Só digo que é bom que exista um rumo. Os filmes de Pierce Brosnan, o Bond da década de 1990, eram bons, mas eram extremamente independentes um do outro, mostrando que os produtores estavam atirando para todo lado. Após a diversão cartunesca de Goldeneye, vieram a ação anos 80 de Tomorrow Never Dies, a aventura noir de The World is Not Enough e a ficção hi-tech de Die Another Day. Era como se o clássico Bond estivesse reencarnando em diferentes corpos em cada nova história sua.
Agora há um corpo só. Os filmes serão até sequenciais, o que é inédito desde a era Sean Connery. E, hum, agora que citei o nome do ator escocês, vale falar de Daniel Craig. Se ele é um bom James Bond? Sem dúvida. É o ator cuja aparência física mais se assemelha àquela descrita por Ian Fleming em seus escritos. Agora, quanto à interpretação, eu digo que todos os atores que já passaram pelo papel (com exceção daqueles que o fizeram no Casino Royale de 1967), me agradaram. Cada um deles explorou ao máximo uma das características do Bond literário: Connery trouxe a frieza nas ações, Moore a imparcialidade nas decisões, Dalton a honestidade de espírito, Brosnan a supressão de sentimentos e, agora, Craig traz a timidez. Sim, timidez. O Bond literário é alguém cuja visão fica confinada em si mesmo até explodir nos braços de uma beldade. Ele é honesto, mas para consigo mesmo. Seu corpo é uma parede de gelo que não permite que o que está do lado de dentro saia e descubra o mundo. Ele precisa ser assim, para que sua vida, repleta de jogos arriscados, se prolongue. E é a cama o único lugar onde ele se permite ficar indefeso, ao lado dos objetos sexuais que o mundo convencionou chamar de mulheres. Bond não confia nelas, e não vê para elas outra utilidade senão o sexo (claro, isso muda em On Her Majesty's Secret Service, mas existe muito chão - muitos romances - até lá). O agente deseja, mais que os homens fracos que o admiram, conseguir um dia fazer da sinceridade uma palavra de sua boca, mas sabe que não pode, que não tem tal capacidade, pois interpretar é seu existir, a ponto de não ficar claro o que veio primeiro: o Bond disfarçado ou o Bond assassino. Ser um 00 é motivo para disfarce ou foi a incapacidade de viver fora do disfarce que transformou a pessoa em um duplo zero? Os romances de Fleming deixam bem claro que Bond não tem orgulho de seu trabalho e que ele tem consciência de que não está do lado do bem nem do lado do mal, mas do lado que lhe dá um salário. Isso faz com que minha leitura acredite que a personagem chegou a uma posição inerte. Não há caminho de volta e não há caminho a seguir. A única opção de Bond é fazer. E Craig expressa isso muito bem.
Obviamente, não é só o ator que merece os méritos por sua própria interpretação bem sucedida. O James Bond atual não é mais o cidadão britânico da Literatura. O Bond atual, o Bond do cinema, é um cidadão do mundo. A timidez de Craig reside justamente no fato de que sua personagem sabe que serve a um país cujos interesses não são totalmente compatíveis com os interesses de outros. Não só em si própria, mas no enredo que a abriga. Tal certeza permeia a série recentemente: a certeza de fazer filmes para ingleses e russos, para americanos e iraquinanos, para japoneses e chineses... Salvar o capitalismo e a democracia já não são mais importantes do que enfrentar inimigos pelo prazer de encarar a morte e depois dormir com uma mulher dos sonhos. Esses são problemas universais em comparação aos quais o capitalismo e a democracia tornam-se pálidos. Mas os filmes anteriores não sabiam disso? Sim, mas o segredo é que agora Bond sabe também.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Pac-Man


(da mostra I Am 8-bit)

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Execution

Execution é um minúsculo, ou infinitamente gigante, videogame onde você, leitor-jogador, é uma personagem pronta para uma execução. Sua vítima está ali, amarrada, indefesa. Você tem a arma na mão.















A mira acusa seu objetivo. Cabe a você, no entanto, decidir ou não pela consumação do ato. E a decisão é aqui, como o são as decisões da vida real, um caminho sem retorno. Acredite, é um dos jogos mais tensos pelo qual já me aventurei. Medo, incerteza, frustração... Tudo isso numa única cena!

O jogo é gratuito e está disponível em
http://gmc.yoyogames.com/index.php?showtopic=375097. Sem dúvida um grande exemplo das inúmeras possibidades contidas nessa mídia eletrônica em termos de diálogo e manipulação do texto.

Sonho

Sol.

O sonho é etéreo, é desejo.

Lua.

O sonho é concreto, é certeza.

sábado, 18 de outubro de 2008

Trevas

(a Karol Lima)

Uma gota
Que cai
E parte o mundo em dois.

Uma lâmina
Sem fio
Que corta e faz sangrar.

E o sangue derramado
Sobre o mundo duplicado
Espelha dor, confusão,
Calor!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Você, o Príncipe da Pérsia

Em 1989, este videogame era lançado para o computador Apple II:












O nome era Prince of Persia.

Criado por Jordan Mechner utilizando a técnica de animação chamada rotoscopia, que toma como referência a filmagem de um modelo vivo, o game vendeu como água no deserto e foi convertido para inúmeras outras máquinas ao longo dos anos, como o Super NES e o queridinho dos brasileiros Master System.

Agora, em 2008, Mechner, através da editora First Second, lança uma história em quadrinhos baseada na sua antiga personagem:


















Baseada na sua personagem?

Não exatamente. De acordo com as palavras do próprio Mechner, disponíveis em http://www.princeofpersiathegraphicnovel.com/, o Príncipe não é bem uma personagem dele. Ele até confessa que se enfureceu quando as adaptações de sua obra-prima começaram a pipocar, cada uma com novos elementos diferentes, nem sempre condizentes com a visão de Mechner. Mas a raiva passou quando ele lembrou que se não existissem As Mil e Uma Noites, não existiria o Prince of Persia.

E ele vai adiante, questionando se o Príncipe dos jogos contemporâneos que são sequências do seu jogo é o mesmo Príncipe que ele moldou. Para Mechner, a resposta é negativa. Cada jogo denominado Prince of Persia, conclui, traz consigo um novo Príncipe. Uma nova personagem, ou ainda, uma nova visão sobre uma antiga personagem. Nem nome Príncipe é. É apenas um título, que pode ser dado a qualquer um. O próprio jogador, quando no comando do game, é o Príncipe da Pérsia (ainda que somente a nível de interpretação - um gamer nunca se funde a uma personagem, o que destruiria a existência do videogame narrativo).


Interessante visão descentralizada e honesta, além de inteligente, que o artista tem da criação intertextual da personagem. E ainda duvidam quando digo que a maior parte dos grandes escritores (e músicos, e desenhistas, e programadores) de minha geração estão trabalhando com videogames...

domingo, 12 de outubro de 2008

De 1 a 10

(a Paula Monteiro)

1...
2...
3...
4...
5...
6...
7...
8...
9...
Você!

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Nascido no Domingo, Bloqueado na Segunda

Poderia ser o título de um conto de fadas.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Timor Leste

(escrito em 2003)

_Pai...?
_Sim, meu filho?
_Eu preciso da mamãe... Onde ela está?
_Já disse para você, meu filho: mamãe foi para um lugar melhor, cheio de coisas para comer.
_E por isso ela não volta mais?
_Sim, filho. Ela não vai voltar. Não vai voltar porque... Bem, porque ela está nos esperando lá.
_Nós vamos para lá?
_Vamos, meu filho. Se Deus quiser.
_Deus...? Deus existe, pai?
_É claro que sim, meu filho.
_Então por que Ele não acaba com a dor que eu sinto na barriga?
_Ele vai acabar com a dor, filho. Logo, logo. Não se preocupe.
_...Pai?
_Sim, meu filho?
_Esta noite eu sonhei que estava comendo com a mamãe. Ela havia trazido muita comida para repartirmos... Como nascem os sonhos?
_Os sonhos, meu filho, são visões de seus maiores desejos.
_Você tem um sonho, pai?
_Eu tinha um, meu filho... Mas com sua mãe longe de nós e você assim, com dores na barriga... O meu sonho agora é outro. É o sonho de uma nação... Que nos tornemos um povo que não passe fome... Filho? Você está bem? Filho? Filho?
_Pai, você... Você... Estava... Certo... Eu não tenho... Mais dor... A mamãe, pai... A mamãe... Está me... Me dando a mão... Pai... Pai, tchau, pai... Pai...
_Tchau, filho. O papai já está indo. Nós ficaremos todos juntos novamente. Nós... Nós... Todos juntos novamente... A... Adeus, filho... Mais uma vez, meu sonho foi partido... E o crucifixo que me guia caiu na escuridão... Povo desta terra... Povo desta terra, a você eu diria: não ames, pois o amor aqui é um sentimento desperdiçado.

Carne

Pó.
Nó.

Porra!

Rhapsody - A Musical Adventure















Você, leitor, provavelmente já assistiu um filme ou uma peça de teatro musical. Mas e quanto a videogames? Já jogou um game musical?

Rhapsody - A Musical Adventure é isso: um videogame musical. Diferente? Sem dúvida. Inovador? Indiscutivelmente. De alto valor artístico? Inegável.

Lançado no ano de 2000 em língua inglesa pela editora Atlus e produzido no Japão pela produtora Nippon Ichi (mais conhecida por seus jogos estratégicos, como La Pucelle e Disgaea) para a plataforma Playstation, o videogame é um RPG eletrônico onde a protagonista é uma garota disposta a enfrentar qualquer adversidade para viver feliz ao lado de seu príncipe.

No melhor estilo Disney, a narrativa é, em muitos momentos, musicada. Contada através de músicas. E não são músicas ruins. Não só as melodias e a instrumentação são belíssimas, as vozes também são dignas de nota. Somadas a um visual carismático e a uma história simpática, as músicas tornam-se ainda mais deliciosas.

O jogo teve uma reedição para o portátil DS. Embora o original seja sempre o original, reedições são uma ótima opção para quem perdeu a oportunidade de conhecer a obra em sua tiragem inicial. E Rhapsody é uma obra que merece ser saboreada.

Clássico.

domingo, 5 de outubro de 2008