segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Timor Leste

(escrito em 2003)

_Pai...?
_Sim, meu filho?
_Eu preciso da mamãe... Onde ela está?
_Já disse para você, meu filho: mamãe foi para um lugar melhor, cheio de coisas para comer.
_E por isso ela não volta mais?
_Sim, filho. Ela não vai voltar. Não vai voltar porque... Bem, porque ela está nos esperando lá.
_Nós vamos para lá?
_Vamos, meu filho. Se Deus quiser.
_Deus...? Deus existe, pai?
_É claro que sim, meu filho.
_Então por que Ele não acaba com a dor que eu sinto na barriga?
_Ele vai acabar com a dor, filho. Logo, logo. Não se preocupe.
_...Pai?
_Sim, meu filho?
_Esta noite eu sonhei que estava comendo com a mamãe. Ela havia trazido muita comida para repartirmos... Como nascem os sonhos?
_Os sonhos, meu filho, são visões de seus maiores desejos.
_Você tem um sonho, pai?
_Eu tinha um, meu filho... Mas com sua mãe longe de nós e você assim, com dores na barriga... O meu sonho agora é outro. É o sonho de uma nação... Que nos tornemos um povo que não passe fome... Filho? Você está bem? Filho? Filho?
_Pai, você... Você... Estava... Certo... Eu não tenho... Mais dor... A mamãe, pai... A mamãe... Está me... Me dando a mão... Pai... Pai, tchau, pai... Pai...
_Tchau, filho. O papai já está indo. Nós ficaremos todos juntos novamente. Nós... Nós... Todos juntos novamente... A... Adeus, filho... Mais uma vez, meu sonho foi partido... E o crucifixo que me guia caiu na escuridão... Povo desta terra... Povo desta terra, a você eu diria: não ames, pois o amor aqui é um sentimento desperdiçado.

Um comentário:

Anônimo disse...

Disperdiçado, necessário...um paradoxo....