quarta-feira, 16 de outubro de 2019

Dor

Hoje a moda é sentirmos a dor, sentirmos - sentir! - a(s) doença(s). Parece que só a dor é capaz de ressuscitar o restinho de humano nos nossos corações robotizados por mais de cem anos de maquinaria. Homens-máquina, como Chaplin ameaçava que seríamos. Menosprezamos a saúde quando ela está na frente da felicidade. Esquecemos dela. Enquanto deslizamos nossos dedos furiosamente pelos nossos celulares, gozando cada Curtida nas redes sociais, organizando uma vida virtual de eventos sempre virtuais, sorrindo pelo prazer de existirmos na Idade da Informação, ignoramos a passagem do tempo, a (in)significância de nossa Biologia minúscula num cosmos de universos e micróbios infinitos. Mas não morremos sem saber o que nos atingiu. Quando a doença chega, a Biologia feita flor, reparamos o poder dos finalmentes. (Choramos?). Antes felizes, sem dúvida felizes, nada nos impede de chorarmos as felicidades que não conhecemos: pisar na grama, jogar baralho, abraçar cachorro, chutar a bola, olhar, olhar e, olhando, namorar todos os ambientes. Hoje, só a dor nos faz apaixonados pelo mundo palpável, real. A dor é o Cupido do século.

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