sábado, 27 de fevereiro de 2021

Fórmula

O capitalismo contemporâneo deve quase todos os seus sucessos a... Karl Marx. Foram os escritos dele que desnudaram as principais falhas dos burgueses nos aparatos de controle da classe proletária. Foram as revoltas comunistas que mostraram que só se controlam escravos com comida e moradia, na forma de um salário que não desvalorize o escravo perante a máquina. Foram as revoltas da classe trabalhadora que protegeram a criança da indústria, consequente e simultaneamente transformando-a em um novo mercado, extremamente lucrativo. Foi o sucesso soviético inicial, além da própria concorrência entre os burgueses, que devolveu ao vocabulário destes burgueses alguns valores relacionados a um período passado, e que funcionam como definidores de mercados, como o nacionalismo e, posteriormente, a religião. É o terror causado pela simples ideia de que um dia tal verdade venha à tona que estimula os capitalistas a continuarem criando estruturas linguísticas e comportamentais de segregação, que os liberais e a esquerda abraçam ora com a coragem esperada, como na revolução sexual do século passado, ora com inocência constrangedora, como nas reivindicações identitárias de hoje. Liberais e esquerda, estes também saídos da classe burguesa, geralmente impedidos de educar o proletariado pelos seus próprios interesses políticos ou até de subsistência. Enquanto pregam a palavra dos filósofos do amanhã, evitam entrar em choque com os senhores do capital, para não terminarem excluídos e ultrapassados como os poucos realmente revolucionários terminaram. Porque foi assim que eles terminaram: sem o controle dos meios de comunicação internacionais que possibilitem o mesmo alcance que a educação burguesa, capitalista, consegue sobre as populações urbanas, nenhum conseguiu, nenhum conseguirá, unir as camadas mais baixas da pirâmide econômica, hoje não mais dividida em operários de diferentes ofícios, mas em grupos ainda menores de pessoas que compartilham exatamente o mesmo conceito de sociedade aceitável. Dividir para controlar, como já alertava, após Bacon e Kant, o historiador e economista Marx, que é o capitalista quem lê.

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