Rever os amigos e retomar velhas conversas é muito bom. Mas, quando os amigos são muito antigos, e a última conversa foi há muito tempo, talvez existam alguns estranhamentos. A gente percebe que eles são os mesmos em muitos aspectos, mas também entende que eles estão mudados em tantos outros. Com o primeiro amigo, os assuntos são os mesmos, mas as palavras dele estão cansadas, ou radicalizadas. Com o segundo, os assuntos parecem ser os mesmos, mas fica óbvio que os pontos de vista já não casam com os seus como outrora combinavam. Com o terceiro, há mais nostalgia do que conteúdo, tamanha a distância que formou-se entre as duas realidades, a sua e a dele. Rever amigos assim é simultaneamente prazeroso e inquietante. Duas janelas: passado colorido, futuro nebuloso. Mas isto é ruim? É comum amizades terminarem depois destes reencontros. O que é um erro. Afinal, proporcionam chance rara para os velhos amigos conhecerem pela primeira vez, outra vez, pessoas que foram importantes em suas vidas. Ato difícil, mas enriquecedor. Dentre os diversos tipos de bênçãos que vêm disfarçadas, (re)conhecer um novo velho camarada é uma das mais construtivas.
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
... Conversa vem.
domingo, 16 de fevereiro de 2025
Conversa vai...
Em 2024, casei-me. E, dentre todas as coisas boas do casamento, uma pela qual não esperava: continuar as conversas com os velhos amigos, pausadas há décadas. Jô Soares estava certo quando dizia que amigo é aquela pessoa que, quando você vê, reinicia a última conversa exatamente do ponto onde ela parou, tenha ela parado há dez, vinte ou cinquenta anos atrás. Sim, Leandro, a Marvel só tem isso para entregar. Não, Jorge, eu ainda não sou um bom jogador de futebol virtual. Claro, Ivan, claro que ainda amo os Comandos em Ação... Por fim, a noite acabou. Noites têm prazo de validade. Um alívio lembrar que as conversas com os amigos não. A gente continuou, a gente continua, a gente continuará elas depois.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
quinta-feira, 2 de janeiro de 2025
quarta-feira, 1 de janeiro de 2025
2025 chegou...
... e, considerando que meus amigos e eu já somos ou estamos muito perto de nos tornarmos quarentões, desejo a nós todos um ano totalmente livre de Dorflex, Cataflan, Dipirona e afins.
Enfim, um feliz e indolor 2025!
domingo, 21 de abril de 2024
Sherlock (2009 - 2024)
O Sherlock que nasceu no meu quarto, atrás da minha cama. O Sherlock que era o queridinho da sua mamãe biológica. O Sherlock que abria as portas com a patinha. O Sherlock que fazia fila para o banheiro. O Sherlock que andava a cidade inteira. O Sherlock que esperava a Julie em cada esquina. O Sherlock que latiu para a vaquinha. O Sherlock que raspava as paredes para deitar na poeira. O Sherlock que chamava para passear esfregando sua bundona no banco do computador: - A bundona! O Sherlock que latia para ir pra varanda, que latia para voltar da varanda. O Sherlock que era colírio para os olhos da garotada. O Sherlock que foi fiel escudeiro da sua mamãe adotiva. O Sherlock que comia a ração ruim quando me via. O Sherlock que disputava com o Eduardo a atenção na hora da brincadeira. O Sherlock que sempre fez jus ao seu nome de detetive. O Sherlock que subia nas muretas e enfiava o fuço nos encanamentos. O Sherlock que era o meu sósia canino: - Cabeludo! O cachorro mais querido do mundo. Anjo! Sherloque! Eu te amo, lindão. Meu coração. Tudo ficou silencioso sem você.
sexta-feira, 5 de janeiro de 2024
quinta-feira, 4 de janeiro de 2024
Educação
Assim como os livros fáceis não são porta de entrada para os livros difíceis, nem os filmes fáceis porta de entrada para os filmes difíceis, pois tudo o que é difícil exige educação por parte dos leitores e consumidores, os jogos contemporâneos não são porta de entrada para os jogos de outrora, que rodam em máquinas obsoletas e trazem mecânicas que, via de regra, foram aperfeiçoadas com o passar dos anos. Os jogos antigos são como as obras antigas oriundas de outras mídias, de outras linguagens. Eles também exigem educação.
É fundamental que as gerações futuras sejam educadas quanto às formas de se jogar jogos antigos para que esses jogos possam ser preservados. Jogos antigos, em suas edições originais. Enquanto que remakes podem trazer públicos novos a conceitos ultrapassados, ainda assim há uma distância entre eles e os originais. Remakes são sempre releituras, obras adaptadas às sensibilidades de seu próprio tempo. Os originais carregam outras bagagens: contam uma outra história, retratam uma outra cultura, desnudam uma outra sociedade, ensinam uma outra etapa evolutiva da ludologia.
Sim, é difícil convencer alguém acostumado às mordomias dos smartphones a se adaptar aos loadings e disquetes de um TK ou de um MSX. É difícil ensinar alguém acostumado a baixar jogos num instante a instalar manualmente um Prince of Persia ou um Caesar no sistema operacional DOS. É difícil explicar para alguém acostumado a ver setas apontando o caminho o tempo todo que, no The Bard's Tale, ele não só tem que achar o caminho por conta própria, como deverá desenhar seu próprio mapa em papel quadriculado para realizar tal feito.
Tudo isso é difícil. Exige treino, esforço, muita boa vontade... Enfim, exige educação. Mas tudo isso também pode ser satisfatório, pois exercita o cérebro de maneiras diferentes, e, consequentemente, estimulantes. E tudo isso também pode ser revelador, pois dá acesso não só aos caminhos trilhados, como também aos que não foram trilhados pelos editores, designers, programadores e jogadores que compuseram os ecossistemas criativos posteriores. Sempre que pudermos, e o próximo estiver disposto a aceitar, eduquemo-lo quanto ao passado dos jogos. Nós estaremos abrindo para ele uma janela com vista a outros patamares de interação e diversão, e abrindo portas para o futuro dos videogames. Não há futuro sem passado, não há passado sem educação.